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Todos nós dizemos, e é verdade, que atrás de cada garrafa de vinho há uma história de uma família a ser contada, uma história de vida. E se formos nos sentar com cada produtor de vinhos ou de uvas, ouviremos lindas e empolgantes histórias de todos eles. Pois bem, quando falamos em uvas, muitas e diferentes histórias também podem ser contadas. E pensando nessas histórias eu quero apresentar uma uva com nome bem diferente, a Noir de Pressac ou Auxerrois ou ainda Côt de Cahors.

O nome Noir de Pressac surgiu a partir da Comuna de Pressac e daí se fez conhecida na região de Médoc, na França. Já era famosa na região de Toulose, onde desde a idade de média era conhecida como Auxerrois, além de ter tantos outros nomes. Sugere-se assim uma origem mais ao norte, ao lado de Orleans. A região de Cahors é onde essa uva mais aparece na história antiga. Mas no século XVIII, diz-se que o negociante russo húngaro Monsieur Malbeck levou a uva Côt de Cahors para os produtores de Bourdeux, mais precisamente na década de 1780. A partir deste momento coloca-se a uva com o nome Malbec, retirando o “K” do nome do negociante e ficando como origem a região do Cahors. É uma das uvas que podem ser usadas no corte bordalês.

A palavra Malbec em francês, significa ruim de boca, ruim de bico, amarga, adstringente como uma banana verde. Mesmo com essas características, os vinhateiros a plantavam e até gostavam de beber os vinhos elaborados. Eles cultivavam a Malbec para entrar nos cortes com outras cepas, pois agregava taninos, cor e alcoolicidade aos vinhos, dando à bebida uma ótima estrutura. Mas com o clima úmido de Bordeaux não ajudava, pois a uva ficava muito suscetível a pragas, podridões e outras doenças. E como todas as outras, também foi vitima da filoxera, um pulgão amarelo que devastou os vinhedos na Europa no final do século XIX, ficando assim quase esquecida. Além da Filoxera, a geada de 1956 reduziu ainda mais a uva na França.

A Malbec começou a se recuperar quando o argentino Domingo Sarmiento pediu ao enólogo Michel Aimé Pouget que levasse algumas mudas de videiras para serem cultivadas em solos argentinos, longe da praga. A Argentina era um mercado consumidor de vinhos e produzia vinhos de baixa qualidade, produzia volume. Na década de 90, em Mendoza, onde se desenvolveu muito bem, ela ganhou destaque no cenário da enologia mundial, quando Nicolas Catena produziu o primeiro vinho 100% Malbec a ser elencado entre os mais premiados por renomados críticos de todo o mundo. Catena inovou ao trazer tecnologias às vinícolas, trabalhou os vinhos com barris de primeiro uso e começou a produzir grandes Malbecs.

As características dos vinhos variam de região. Além de França e Argentina, o Chile também produz Malbecs interessantes. O Brasil também já está produzindo vinhos com essa uva. A Malbec possui casca grossa, cor intensa, cachos menores, amadurecimento intermediário (não é precoce nem tardia), é sensível às geadas e ao míldio, se adapta bem a vários tipos de solos e é comum sua passagem por madeira. Possui muitos taninos, mas taninos elegantes, macios e bom corpo nos vinhos. Em climas mais moderados, apresenta aromas de fruta vermelha e pretas, como ameixa e cereja preta. Fruta seca e aromas florais quando plantadas em solo com presença de calcário, além de um herbáceo, com aromas mentolados e ervas secas. Em madeira, notas de tosta e especiaria doces. Em climas quentes, aromas de fruta preta, como mirtilo e framboesa preta e geleias de frutas negras.

Na França, na região de Cahors em especial, os vinhos possuem mais taninos, tem maior adstringência, acidez elevada, notas herbáceas e terrosas e com potência para guarda. Quando jovens, são até difíceis de ser consumidos, entrando em sua composição uma parcela de Merlot para dar mais suavidade, sendo menos frutado.

No Chile, se destacam as regiões do Vale Central: Maipo, Colchágua e Maule, com clima seco e quente, se destacando os aromas de frutas pretas.
Na Argentina, a região de Mendonza se destaca na produção da uva, com 85% de toda a produção do país. 58% de área cultivada de uvas tinta no país é de Malbec. A maioria dos vinhedos com altitude acima de 600 metros. Os vinhedos estão em altitudes entre 900 e 2100 metros no Vale do Oco, com destaque para Gualtallary, com os famosos Catena Zapata, de onde sai os vinhos Adriana, filha mais jovem do Zapata. Além de Mendoza, temos Patagônia, Salta, etc. A boa amplitude térmica ajuda na boa acidez, gerando vinhos frescos e frutados.

A Malbec é uma uva muita conhecida em função da boa exploração da cepa pelos argentinos, levando-a aos 4 cantos do mundo. É muito harmonizada com carnes de churrasco. Faça suas escolhas e brinde com uma taça de Malbec.

 

Vaner Benetti
Sommelier FISAR/WSET1

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